terça-feira, 18 de março de 2014

Schroedinger

Estava eu lendo John Green quando ele me presenteia com uma metáfora genial. As metáforas sempre foram algo especial pra mim, me ajudando a me expressar ou a tender melhor uma situação. Com essa não foi diferente.

O autor traz um casal de amigos que se sentem atraídos um pelo outro mas tem medo de saírem de sua zona de conforto, de arriscar algo além da amizade. A analogia se dá com o gato de Schroedinger.

Não sou uma super cientista e não pretendo descrever em detalhes o experimento. A essência é que esse tal de Schroedinger dizia que, ao colocar uma substância radioativa em uma caixa, um martelinho que poderia ou não quebrar o recipiente com a substância, e um gato vivo nessa mesma caixa e tampá-la, não seria possível afirmar se o gato estaria vivo ou morto sem abrir a caixa para conferir (porque o rearranjo dos átomos e moléculas podia inverter a situação? É por aí).

Aí você me pergunta "tá, mas e daí?". E quem explica é o John Green: o menino e a menina não podem afirmar se a relação daria certo ou não se não arriscassem. A relação deles é como o gato de Schroedinger, existem variáveis incontroláveis e imprevisíveis que podem resultar no sucesso ou no fracasso.

Porque eu achei genial? Ora, quantas vezes deixamos de abrir a caixa por medo de descobrir a verdade? Quantas vezes não arriscamos porque não sabemos qual vai ser o resultado?

E o John Green vai além: "Eventualmente eles descobriram que manter a caixa fechada não mantém de verdade o gato morto-e-vivo. Mesmo se você não observar o gato, qualquer seja seu estado, o ar na caixa o faz. Então manter a caixa fechada só deixa você no escuro, não o universo."


Em muitas situações, eu diria que ficar no escuro é pior do que descobrir que o gato está morto. Abram as caixas. Vejam se o gato está vivo ou morto. Arrisquem-se. Descubram. Façam o melhor que podem. Assim, ao menos evitamos os "e se" que nos assombrariam pelo resto da vida.


P.s.: já vivi a situação de não querer arriscar algo além da amizade com alguém, mas aqui estou eu,quase quatro anos depois, namorando a mesma pessoa. Já pensou se eu não tivesse tido a coragem de abrir a caixa?
P.p.s: pra quem se interessou, a metáfora está no livro Will Grayson, Will Grayson, do John Green.

(17/12/13)

Sobre fogueiras

Diante de um cotidiano tão cheio de ocupações e com pouco espaço pra gente parar pra pensar, de repente a gente tem uns estalos de consciência (insights, epifanias, chame como quiser).

Quando a gente é criança, fazer amigos parece a coisa mais fácil do mundo. "Oi, você tá sozinho? Eu também. Eu tenho uma boneca, quer brincar comigo? Legal." Pronto, ganhou-se uma amiga e uma tarde de brincadeiras.

Quando a gente é adolescente, a coisa complica um pouco, mas ainda assim, pelo contato diário forçado que é a escola, você acaba encontrando afinidades."Você também gostou desse livro? Você também dança? Você é esquisita igual a mim. Você pode me ensinar física?" Pronto, encontrou-se alguém com quem compartilhar as dificuldades dessa fase da vida.

Quando a gente entra na vida adulta, ainda que eu esteja só no comecinho, não é tão fácil. De repente cada um está na sua própria bolha, envolvido com seu curso na faculdade, com seus novos amigos, com seus estágios, trabalhos, namorados e objetivos. Eu, inclusive, me encontro na minha própria bolha.

O estalo (insight, epifania, etc etc) se deu quando eu percebi que, independente das pessoas que eu conheça, do que eu estude, de onde eu trabalhe, sempre tem aquelas amizades que permanecem. É como aquela frase brega e clichê: o vento apaga as velas e atiça as fogueiras. O vento sendo, no caso, essa nova realidade que vivemos. As velas são as pessoas que não estão mais tão presentes - e nem querem estar, e às vezes é melhor que não estejam. 

E as fogueiras são aquelas poucas, pouquíssimas, que se mantém. Agradeço o tempo todo pelas fogueiras que me cercam, e talvez precise dizer isso mais vezes a elas.